Publicação: 1 de fevereiro de 2008Categorias: Entrevistas

´Amiguinhos da PM´ melhora vida de crianças do Almirante Tamandaré

Fotos: Ascom/PMSE

A realidade de 100 crianças que moram no conjunto Almirante Tamandaré, bairro Santos Dumont, zona norte de Aracaju, vem mudando para melhor após o início do projeto Amiguinhos da Polícia Militar que atua na comunidade há quase quatro anos. O coordenador do projeto, sargento Sandro Soares, contou ao Inclusão Social as experiências do projeto e como ele contribui no desenvolvimento do grupo.

Por Roseane Moura
Da Redação (Aracaju/Sergipe)

Inclusão Social – Como surgiu o projeto Amiguinhos da PM?

Sandro Soares – o projeto é resultado de um trabalho social e voluntário realizado por policiais militares que atuam na 3ª Companhia do 8º Batalhão de Polícia Comunitária (3ª Cia/8º BPCom). Em julho de 2004 nós percebemos que poderíamos contribuir na melhoria da situação das crianças da região de alguma forma. Nesse contexto, o projeto foi ganhando espaço e abraçado por toda a Corporação, de forma oficial, em maio de 2007.

 IS – Como o projeto atua junto às crianças do Almirante Tamandaré?

SS – Hoje contamos com 101 crianças carentes, de cinco aos 13 anos, que participam das atividades desenvolvidas pelo projeto. Entre nossos objetivos estão o desenvolvimento de trabalhos sócio-educativos que possibilitem a consciência e o exercício da cidadania, disciplina de vida e preparo para o convívio social futuro, vendo a criança como cidadão e como agente transformador da sociedade. Mostramos ainda que a auto-estima e determinação são fundamentais no processo.

IS- Que metodologia de trabalho é empregada junto ao grupo?

 SS – Nós realizamos atividades extra-escolares, práticas esportivas, cursos e oficinas, oferecendo a oportunidade de pesquisa e estudo da realidade do meio no qual elas estão inseridas, mostrando também que há outras realidades que elas podem alcançar. Temos a intenção de sensibilizar o grupo para que não caminhem para a criminalidade, ou seja, é um trabalho preventivo. Outras alternativas são viáveis e possíveis, depende deles, da base familiar e escolar que possuem. Apenas fortalecemos o que já possuem dentro delas de positivo ou reconstruímos uma imagem equivocada que fazem de si mesmos.

 IS – Qual a relação das crianças com os policiais militares?

SS – As crianças estão bastante acostumadas com seus educadores. Há uma relação muito próxima entre eles, momento em que aproveitam para questionar sobre policiamento, criminalidade e segurança pública como um todo. Mesmo sem perceberem eles tocam em pontos cruciais para entender o espaço que acabam ocupando na sociedade. Tanto é que um dos enfoques do projeto é o de inserir, aos poucos, a filosofia de Polícia Comunitária na comunidade.

 IS – Onde são realizadas as atividades do projeto?

SS – Nosso ponto-base é na sede da 3ª Companhia do 8º Batalhão de Policiamento Comunitário, na avenida Airton Senna s/nº, nas dependências da Associação de Moradores do conjunto Almirante Tamandaré. Mas as crianças participam de passeios, conhecem peças de teatro, parques, cinema, museu. Participam de festejos juninos, dia das crianças, natal, entre outras atividades lúdicas que proporcionam a descoberta de um "novo mundo". Além disso, terminou hoje [referindo-se à quinta-feira, dia 31 de janeiro] na Fazenda Boa Luz, a colônia de férias do grupo.

 IS – O que sente ao perceber que é possível colaborar com a visão de mundo destas crianças?

SS – É muito gratificante observar como eles se desenvolvem a cada dia. Um dado interessante do projeto é que só permanecem na ação as crianças que estudam. Atuamos com 50 crianças no período da manhã e 50 no período da tarde. Quando não estão com a gente, estão na escola. Um dado é certo: elas passaram por um longo período letivo, têm que conviver diariamente com os problemas familiares e sociais do local onde residem, e esse [referindo-se à colônia de férias realizada em janeiro] é um dos momentos em que elas são apenas crianças, com atitudes, gestos e dúvidas típicas da idade. Ficamos honrados em fazer parte desse crescimento e aprendemos com elas a cada dia uma lição de vida diferente.

 IS – Que profissionais atuam no projeto? Há financiadores ou parceiros?

SS – Temos profissionais na área de serviço social, educação física e pedagogia, todos voluntários. Além dos policiais militares que atuam como educadores. Até o momento contamos com parcerias junto ao empresariado local. Certamente encontraremos uma maneira de dar sustentabilidade às ações do projeto e pretendemos até ampliá-las, a depender das novidades positivas que teremos agora em 2008. Um grande incentivo para nós foi o fato do projeto ter ficado entre os semifinalistas do Prêmio Itaú-Unicef 2007.

 IS – Foi dito durante a entrevista que as crianças têm uma noção de Polícia Comunitária. Em que consiste?

SS – O projeto Amiguinhos da PM é hoje um grande parceiro do trabalho ostensivo desenvolvido pela Polícia Militar de Sergipe na região do Almirante Tamandaré. Desde sua implantação os índices de criminalidade diminuíram. Através dele a comunidade se aproximou dos policiais militares e com isso ficou mais fácil identificar os focos da ação marginal, economizando tempo, além de recursos humano e material.

 Quanto ao conceito de Polícia Comunitária, refere-se ao fato de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos, como crimes, drogas, desordens físicas e morais, além da decadência da própria comunidade. Na realidade tem o objetivo de melhorar a qualidade geral de vida na área. E essas crianças são nosso ponto de partida, nossa visão de futuro da região onde atuamos.