Publicação: 23 de maio de 2005Categorias: Entrevistas

Ecoturismo: proteção ao patrimônio natural e cultural


 


Carlos Eduardo Silva, 22 anos, é diretor presidente da ONG Cepecs Brasil, administrador e estudante de Tecnologia em Gestão de Ecoturismo no Cefet-SE. Já foi oficial da infantaria do Exército Brasileiro, onde aprendeu muito sobre técnicas de superar obstáculos em matas, o que usa muito no Ecoturismo. Entrou no Exército Brasileiro porque adora conviver com a natureza, mas não foi o suficiente para suprir sua vontade, pois logo que saiu da instituição fundou o Cepecs Brasil (Centro de Pesquisas e Estudos Científicos e Sociais) que tem a missão de conservar e preservar o patrimônio natural e cultural, através do desenvolvimento de projetos e ações para melhorar o bem estar social das comunidades envolvidas. Começou então a proteger a natureza, e iniciou o curso de Administração para melhor administrar o Cepecs Brasil, depois surgiu a oportunidade de unir os passeios nas matas com o trabalho de conservação da natureza. E, por coincidência, foi justamente na cidade onde mora atualmente, Aracaju, que surgiu o primeiro curso de graduação em Ecoturismo do Brasil.


 


Quais os benefícios que o Ecoturismo traz à sociedade?


 


CARLOS EDUARDO – O Ecoturismo é o segmento do turismo que tem como missão proteger o patrimônio natural e cultural, melhorando o bem estar social das comunidades envolvidas, e também aumentando a consciência ambiental dos ecoturistas, ao contrário do Turismo Ecológico, que é a simples realização de turismo em áreas naturais, beneficiando apenas os empresários do ramo. Então o Ecoturismo só é válido se for gerenciado pela comunidade, gerando emprego e renda aumentando a autonomia desta comunidade, etc.


 


O ecoturismo está sendo reconhecido e aceito pela sociedade?


 


CE – A sociedade ainda não sabe ao certo diferenciar Turismo Ecológico de Ecoturismo, isso gera muita polemica e confusão, porém o que todos sabem é que qualquer um dos termos é viajar para áreas naturais, e o que é necessário saber é que se a viagem beneficiar a comunidade do local visitado, e ajudar a aumentar a consciência ambientalista dos visitantes, protegendo assim o patrimônio natural e cultural, ai sim é Ecoturismo. Caso seja uma simples viagem é Turismo Ecológico. 


Tenho certeza que ambas as atividades são bem aceitas, pois com a vida cotidiana que temos nas cidades, mais e mais pessoas estão tentando quebrar à rotina do dia-a-dia praticando Ecoturismo ou Turismo Ecológico.


 


Existem vários esportes de aventura utilizados pelo Ecoturismo. Fale um pouco desses esportes… Existem profissionais nessa área?


 


CE – Os mais comuns são Trekking e Hikking. O Hikking é o ato de caminhar por trilhas, percorrer riachos, etc. O Trekking é o Hikking de vários dias e a maioria dos ecoturistas fazem Hikking ou Trekking em áreas naturais, porém essas duas atividades sempre estão ligadas as outras modalidades, Rapel, Motanhismo, Escalada, etc. Os esportes de aventura estão ligados ao Ecoturismo pelo fato de que esses esportes são realizados geralmente em áreas naturais, porém temos que prestar atenção em um fato: se os esportes forem desenvolvidos por guias, mateiros ou pessoas da comunidade, se a alimentação for oferecida no povoado pelas comunidades para os visitantes, então podemos considerar Ecoturismo, pois a comunidade está se beneficiando, se for simplesmente um passeio para determinado local, onde empresas das grandes cidades não deixam nenhuma contribuição para as populações circo-vizinho (entorno da área) então eles fizeram Turismo Ecológico e não Ecoturismo Se existem profissionais? Depende do que se entende por profissionais, pois existem poucos cursos de esporte de aventura, e muito menos de Ecoturismo, geralmente na área de esportes de aventura, os instrutores aprendem com outros instrutores mais experientes, e assim vão se capacitando. Na questão de Ecoturismo, existem vários cursos de pós-graduação (especialização) em Ecoturismo, existe uma única graduação de Ecoturismo (Cefet-SE em Aracaju) e ainda não existe Guia de Ecoturismo reconhecido pelo Ministério do Turismo.


 


Quais são as áreas mais procuradas pelas pessoas?


 


CE – Hoje estamos no Bom do Nordeste. O Nordeste brasileiro encorpa praias, mata atlântica, cachoeiras, além da cultura maravilhosa. A culinária dos pequenos povoados atraem pessoas de todo mundo, as Matas de Minas Gerais são tradicionalmente procuradas, suas cidades históricas envolvidas de muita natureza, a Amazônia com sua exuberância, o Pantanal com seu mistério,o Cerrado que tem sua forma particular de ser natural,As Ilhas, como Fernando de Noronha, Ilhas Oceânicas, os Pampas no sul do Brasil. Para lhe ser sincero, quase 100% do Brasil é foco de Ecoturismo, basta que os governantes se conscientizem deste potencial, preservem a natureza e ajudem as comunidades a serem autônomas na execução do Ecoturismo.


 


E a divulgação, fica por conta de quem, dos prefeitos das cidades?


 


CE – A divulgação geralmente é conjunta, primeiro porque quase todas áreas com potencial para o Ecoturismo tem ONGs ambientalistas envolvidas, pois essas ONGs querem a proteção das áreas e autonomia das comunidades, então elas fazem divulgação. A prefeitura também é responsável em ajudar a comunidade e estas ONGs a divulgar, a prefeitura pode financiar a publicidade e propaganda destas ONGs e comunidades e principalmente o boca a boca das pessoas um site tradicional de divulgação do ecoturismo é o Portal Ecoviagens www.ecoviagens.com.br.


 


E os patrocinadores? Porque para haver uma boa divulgação das áreas e para manter uma ONG precisa-se de um bom patrocinador, e muitas vezes estes querem se aproveitar, não é mesmo?


 


CE – Os patrocinadores são atraídos naturalmente, existem muitas fundações internacionais querendo apoiar ONGs que por sua vez apóiam comunidades, porém essas fundações internacionais, e mesmo as grandes empresas nacionais, só apóiam as ONGs que já têm um nível alto de profissionalismo. Para atingir esse profissionalismo as ONGs precisam de tempo para se capacitar, e apoio do governo local para se estabelecer , tendo uma sede adequada e condições para os primeiros passos. A questão do se aproveitar existe em alguns casos, mas na maioria elas só querem aplicar o dinheiro que é destinado para essas ações por grandes multinacionais como é o caso da Microsoft que tem a Bill and Melinda Gattes Fundation eles têm muito dinheiro e podem aplicar em todo mundo, porém só apóiam ONGs estabelecidas e capacitadas, e até a ONG chegar lá tem que ter apoio do governo local ou de outras ONGs(o que é difícil). Estamos a dois anos na praça, ainda não conseguimos fechar nenhum contrato destes, por que não temos sede, enquanto os governos têm prédios abandonados por toda cidade bem que podiam emprestar para as ONGs.


 


Quais as dificuldades que vocês enfrentam e as que o Ecoturismo enfrenta também?


 


CE – O mais difícil na ONG é montar uma equipe de voluntários, pessoas ainda não estão acostumadas ao trabalho voluntário, mas aos poucos vamos conseguindo.


Problemas que o Ecoturismo enfrenta principalmente é o avanço da agricultura desordenada sobre áreas naturais, falta do controle de queimadas nas áreas naturais, despreparo das comunidades tradicionais para recepcionar visitantes, falta de apoio ao verdadeiro Ecoturismo pelo governo que só quer apoiar grandes redes hoteleiras e não pequenas pousadas nas comunidades, falta de cursos de capacitação em Ecoturismo para os jovens, ficando estes restritos às pós-graduações desorganização das Unidades de Conservação.


 


E como vocês fazem para suprir essas necessidades?


 


CE – Nós fazemos um diagnóstico dos locais potenciais para o Ecoturismo, depois desenvolvemos uma pesquisa junto à comunidade para saber a melhor forma desta comunidade em trabalhar com Ecoturismo, tipo culinária, artesanato, mateiros, remédios etc. Depois da pesquisa elaboramos artigos científicos e matérias para, divulgar a realidade do local, depois elaboramos um projeto baseado nesta pesquisa, o problema de tudo é que estamos no inicio , e as grandes fundações e empresas nacionais e internacionais não apóiam ONGs que estão começando e ai precisaríamos de uma sede adequada, mas já conseguimos a doação de 30 tarefas em Lagarto(SE) e em breve iremos construir nossa sede a Unidade Gaia de Pesquisa e Conservação de Mata Atlântica.


 


Quais são as áreas que vocês estão atuando?


 


CE – Nós atuamos com incentivo aos Empreendimentos Sociais Sustentáveis, que atualmente estão como foco no Ecoturismo, na Permacultura, na Agroecologia, na Ecoaruitetura, e nas Energias Alternativas, tudo focando o desenvolvimento de comunidades e a sustentabilidade do planeta desta forma estamos criando no Municipio de Lagarto(SE), criando a Unidade Gaia de Pesquisa e Conservação da Mata Atlântica, onde desenvolveremos estas atividades. Estamos atuando no Municipio de Pirambu(SE), onde estamos realizando o I Encontro Nacional dos Amigos do CePECS, onde está incluso o I Congresso Brasileiro de Empreendimentos Sociais Sustentáveis, e diversas pesquisas , como por exemplo “Ecoturismo como alternativa de sustentabilidade para a região do Horto Florestal do Ibura(SE).”O evento ocorrerá em Pirambu, Sergipe, de 17 a 23 de julho de 2005. Ainda estamos Germinando, nascendo os grupos estão se capacitando , percebendo as potencialidades e dificuldades dos estados e se preparando para começar a atuar.