Publicação: 1 de julho de 2009Categorias: Entrevistas

 EXCLUSIVO: Advogados da ONG Eunice Weaver respondem às denúncias

Há que se tomar muito cuidado ao denunciar uma instituição social, pois junto ao seu nome caminham diversas pessoas que são beneficiadas pela mesma. Por outro lado, as ONGs devem responder prontamente, em especial à imprensa. O porquê desta urgência? Como já diz o ditado: "A primeira impressão é a que fica". E ninguém quer correr o risco de perder credibilidade; de ter seus parceiros/apoiadores duvidando de sua idoneidade e quiçá até cortando verbas por não quererem suas marcas envolvidas em escândalo.

A Sociedade Eunice Weaver de Aracaju (Sewa) teve esta semana o apoio da Prefeitura de Aracaju no embate às acusações do deputado estadual Augusto Bezerra (DEM). Ele sugeriu em diversos veículos de comunicação, em especial nas rádios, irregularidades no repasse à ONG de R$ 28,5 milhões do poder público municipal.

 A ONG estando certa ou errada, um fato a se questionar é: Até que ponto um político pode utilizar o Terceiro Setor como "escudo" para, inclusive, promoção pessoal? É o que se vê vez por outra nacional e internacionalmente e o que se ventila hoje na imprensa sergipana, dado o discurso inflamado do deputado contra seus adversários políticos.

Para ouvir o lado da ONG, que inclusive não dispõe de uma assessoria de comunicação, a equipe do Inclusão Social fez uma entrevista exclusiva com o advogado Alessandro Buarque Couto, acompanhado de seus assessores Luciano e Pedro. Além disso, ao lado da presidente da instituição, a pedagoga Rosa Maria Silva Santos, a equipe visitou as instalações da Sociedade Eunice Weaver, localizada na av. Simeão Sobral, 1075, bairro Santo Antônio.

 INCLUSÃO SOCIAL – Conversávamos em off sobre a demora da ONG Eunice Weaver em responder à imprensa sobre as acusações do empenho de R$ 28,5 milhões na ONG. Você estava me explicando que há 10 anos este recurso vem sendo repassado à instituição. Comente, por favor, como se deu este repasse.

SOCIEDADE EUNICE WEAVER DE ARACAJU (advogado Alessandro Buarque Couto) – O que tenho para dizer é o seguinte: A Sociedade Eunice Weaver buscou e está buscando todos os meios legais para apresentar, sem problemas e como muita tranquilidade, uma resposta a essas denúncias. Nesse sentido, recorremos ao Tribunal de Contas e temos aí um fechamento positivo por parte da auditoria da própria Prefeitura. Então, esse dinheiro que foi suscitado pelo deputado Augusto Bezerra é um dinheiro que vem de mais de 10 anos, pois estamos falando de 1998 para cá. Ou seja, não é um dinheiro de 2008, só de 2008 exclusivamente.

 IS – Esse recurso tem sido gasto em quê?

SEWA – A Sociedade trabalha com diversos projetos sociais que as entidades públicas pedem. Por exemplo, nós temos convênios com a Prefeitura que envolvem: assistência a pessoas carentes, Conselho Tutelar, trabalhos com creches de uma maneira em geral, atividades de combate à violência doméstica, dentre outras. A ONG trabalha com a criança e o adolescente, mas também com as mães, pois os projetos envolvem a família na questão da violência doméstica. Além disso, temos os trabalhos de bordado e pintura, trabalhos manuais em geral. Isso sem falar nos cursos de Informática, atendimentos a mendigos… Ou seja, se nós formos parar para analisar, o trabalho realizado hoje pela Sociedade Eunice Weaver envolve um trabalho assistencial muito grande.

 IS – A instituição foi criada no ano de 1941 e, naquela época, recebeu o nome de Sociedade de Assistência aos Lázaros e defesa contra a lepra de Aracaju. Com tantos anos de estrada, a ONG conseguiu organizar um banco de dados eficiente para momentos como este [denúncia]?

SEWA – A idéia inicial da Sociedade era trabalhar com pessoas portadoras da hanseníase, como consta em nosso site [www.sewa.org.br]. Lá mesmo no site tem os demonstrativos dos projetos que foram executados, ou seja, aqueles que passaram e aqueles que estão em vigor. Tudo está lá, relatado em nosso site, que foi criado inclusive para dar maior transparência. Fora isso a própria denúncia trazida pelo deputado demonstra claramente todos os extratos, tudo que foi publicado. Ou seja, ele mesmo [deputado Augusto Bezerra] trouxe toda a informação de tudo que é feito aqui; as atas, por exemplo. Ele trouxe nada mais, sinceramente, do que todas as informações que demonstram como a Sociedade Eunice Weaver trabalha de forma séria.

 IS – Após a denúncia vocês provavelmente fizeram uma revisão em tudo. Encontraram algo que, por pressa ou outra falha, venha a prejudicar a ONG?

SEWA – Gostaria de frisar, com total tranqüilidade, já que a idéia de vocês [equipe Inclusão Social] é dar publicidade às ONGs, que esta aqui é uma entidade séria. O que por ventura não estiver correto será sanado; se por ventura for apontado algo, nós temos os órgãos controladores para isso, a exemplo do Tribunal de Contas. Agora mesmo nós oficiamos ao Tribunal de Contas da União no sentido de fazer este tipo de pesquisa. Ou seja, quero deixar bem claro isso: o trabalho aqui é feito com muita seriedade.

IS – O deputado Augusto Bezerra propôs, em alguns veículos de comunicação, que a sede da Sociedade Eunice Weaver fosse visitada pela imprensa e por alguns políticos. Vocês toparam esta proposta?

SEWA – Nós já solicitamos inclusive. Agora eu pergunto: A Sra. teve alguma dificuldade em entrar aqui? Alguém disse para a Sra. não tirar foto disso ou daquilo? Então veja bem, saiu estampado no jornal Cinform assim: "Entidade fantasma". Na entrevista Augusto Bezerra diz que foi em busca entidade e não encontrou sequer a sede da Sociedade Eunice Weaver. É difícil encontrar a instituição? Tenho certeza que não.

 IS – Se for constatado que esta denúncia é vazia, o nome da ONG já foi manchado. Além disso, uma denúncia dessas afetou e afeta também a busca de novos parceiros, não é verdade?

SEWA – Sem dúvida. O nome da Sociedade foi abalado neste sentido. E talvez a gente precise retomar às origens dessas acusações. A gente sabe que acusações são feitas todos os dias, a todas as pessoas. Existe a espera competente para a Direção atual da ONG e para as direções anteriores responderem às acusações, que é a esfera jurídica, a qual descamba até em uma indenização por danos morais. Mas a grande preocupação da Eunice Weaver é saber quem irá zelar e cuidar pela média de 600 pessoas que mensalmente são assistidas pela instituição? Em um determinado momento da denúncia, o deputado diz que este quantitativo de dinheiro não daria para formar somente 2 mil pessoas, mas 7 mil pessoas. Sim, está correto! Vamos fazer um cálculo rápido aqui: 600 pessoas/mês, em 10 anos. Temos aí pelo menos 72 mil pessoas assistidas ao longo desses 10 anos! E olhe que estamos colocando números por baixo, já que tivemos meses de atender mil pessoas. Aí, em virtude da instalação desses embates políticos, que são constantes, vamos sacrificar uma instituição histórica e séria? Além disso, uma entidade que pode ser facilmente encontrada. A Sra. mesmo, por exemplo, não encontrou aqui nenhum barraco, onde tem uma instituição fictícia. As portas estão aqui, todas abertas. Isso sem falar nas comunidades aqui atendidas, que sabem e se beneficiam do trabalho da ONG. Veja só os parceiros: Banco do Brasil, Prefeitura, Ministério Público do Trabalho, dentre outros. Veja bem! Estamos falando de pessoas que resguardam a lei; são procuradores do trabalho! Ministério Público do Trabalho tem convênio com a Weaver, desenvolve trabalho com a Weaver. Será que a Weaver seria tão capacitada para colocar os procuradores no bolso? E dizer assim: "Olha, vocês são bestas, nós estamos enrolando vocês". Não há como acreditar nisso.

IS – De forma inflamada, o deputado Augusto Bezerra disse, em especial nas rádios, que esses recursos foram utilizados por seus opositores nas últimas eleições. Começou-se então a ventilar na imprensa a possibilidade de utilização do Terceiro Setor como "escudo" para promoção pessoal e ataque a adversários políticos. Esbarramos novamente na questão de agressão ao nome da Sociedade Eunice Weaver. Como se defender disso?

SEWA – O grande problema com isso, de trazer à tona esse tipo de acusação tola e sem fundamento, é que ela já começa descaracterizada no momento em que o deputado diz que não encontrou a sede da instituição, que era uma "entidade fantasma". No momento em que ele fez o escândalo, no dia seguinte tinham vários jornalistas aqui na porta da instituição. Aí eu pergunto: Como é que um deputado, que só precisa bater um telefonema para conseguir o número de qualquer entidade do Estado, vai procurar uma ONG e não encontra? Aí uma pessoa que tá em casa, ouvindo esse assunto, diz assim: "Rapaz, realmente… Aquilo ali, sei não". Então começa a desacreditar. E numa dessas, por exemplo, a gente pode perder um convênio. Aí o prefeito, por exemplo, decide que não quer mais apoiar para não ter seu nome envolvido em escândalo. E você deixa de executar um serviço de tamanha responsabilidade que tem sido feito junto à sociedade, por causa de uma acusação dessas. É muito triste.

 IS – Lembrei-me do caso da Escola Base. Vocês lembram?

SEWA – Sim, claro. Uma denúncia infundada de abuso sexual de crianças, que foi divulgada por diversos veículos de comunicação do país. Lembro bem do resultado: a esposa do diretor ficou louca; o diretor foi viver na escória, comendo no lixo; e a professora, que foi acusada de participar, ficou débil mental, ficou louca. Todos ganharam indenização do Governo do Estado de São Paulo, Estadão, Folha de S. Paulo, Jornal Nacional, Época e O Globo. É muito perigoso lesar uma instituição com fins filantrópicos como a Sociedade Eunice Weaver, que tem participação em cinco distritos do Conselho Tutelar, que tem mais de 19 creches assistidas pela instituição, convênio com a Semasc, Ministério do Trabalho, Banco do Brasil, dentre outros.

IS – Acredito que, em casos como o da Escola Base, pior que indenização é imaginar o número de pessoas que deixaram, mesmo que temporariamente, de ser atendidas.

SEWA – Exatamente. Aqui na ONG Eunice Weaver a gente não parte para a ofensiva porque, como a Sra. bem sabe, uma denúncia dessas como a que o deputado fez tem várias partes envolvidas; a gente vai para uma parte, depois vem outra… Além disso, ele tem impunidade, ou seja, ele não vai sofrer nada, mas nossos projetos podem sofrer e nós sabemos disso.

Confira a galeria de fotos da Sociedade Eunice Weaver de Aracaju, que fica na av. Simeão Sobral, 1075, bairro Santo Antônio. Contatos: (79) 3215-0435 / 3215-2742 / www.sewa.org.br.