Publicação: 8 de abril de 2013Categorias: Entrevistas

HeloisaRochaCompetente, batalhadora, determinada e de bem com a vida. Essa é a jornalista Heloísa Rocha, 28 anos, que reside em São Paulo/SP e trabalha na emissora de rádio Gazeta AM. Helô, como é conhecida entre os amigos, transmite simpatia e profissionalismo por onde passa. Não foi diferente nos tempos de repórter do Portal Inclusão Social, em Aracaju/SE.

Ter nascido com uma doença rara, chamada Osteogênese Imperfeita, nunca foi impedimento para a comunicadora. Heloísa sempre sonhou e batalhou para tornar o Brasil um país com cultura inclusiva.

Em entrevista, Helô fala sobre acessibilidade, bem como da legislação específica para as pessoas com deficiência física. Além disso, a jornalista convoca as pessoas com qualquer tipo de deficiência a serem um destaque no mundo.

Por Roseane Moura e Waneska Cipriano

Inclusão Social – Como você definiria a mulher, filha e profissional Heloísa Rocha?

Heloísa Rocha – Aquela que nunca viu a deficiência, ou doença rara, como um empecilho para a sua realização pessoal, educacional e profissional. Ou seja, fui criada sabendo que teria que concluir os estudos como uma pessoa qualquer e que teria que ter uma profissão para que, futuramente, não dependesse eternamente dos meus pais, uma vez que eles não estarão comigo para o resto da vida para me sustentar e me apoiar.

IS – Como você lidou no início com a deficiência física? Que espaço este assunto tem em sua vida?

Helô – Sou portadora de uma doença rara chamada Osteogênese Imperfeita, aprendi a lidar com ela naturalmente. Ou seja, da mesma forma que aprendi a falar entendi que era uma pessoa frágil e que quebrava com muita facilidade. Então, a deficiência para mim sempre foi uma coisa que faz parte de mim assim como a cor da minha pele ou dos meus olhos. Encarei-a como algo natural, nasci assim e vou morrer assim, e fui vivendo cada dia dentro dos meus limites, mas seguindo uma vida relativamente natural às demais pessoas. Além disso, claro, tive pais esclarecedores que sempre me fizeram entender os meus limites físicos, mas nunca me trataram como “especial” por isso. Fui criada com muito carinho, mas era repreendida por qualquer atitude errada, ou seja, não fui mimada e nem cresci com a ideia de que o mundo gira em torno de mim. Isso fez com que eu fosse sempre muito bem resolvida.

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Participação no programa ´Agora é Lei´, da TV Alesp

IS – Você acredita que os direitos dos deficientes físicos garantidos na legislação brasileira atendem às expectativas?

Helô – Não, assim como qualquer outro direito humano. Melhorou? Sim, e muito! Mas cada lei não é aplicada como deveria e muitas delas não são tão específicas fazendo com que muitos deficientes não consigam estar completamente inseridos na sociedade. Um exemplo é a Lei de Cotas, que garante vagas para as pessoas com algum tipo de deficiência, porém por sua falta de especificidade e de fiscalização as empresas sempre optam por empregar pessoas com deficiência leve. Em resumo, muitas vezes para nós deficientes não nos vale ter um excelente currículo, mas sim ser uma pessoa que não dará trabalho ao empresário e sua equipe, nem lhe custará investimento para que ele consiga estar inserido e desenvolver seu trabalho.

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Equipe Gazeta AM com os primeiros melhores atletas da São Silvestre, na categoria destinada aos deficientes

IS – O que falta ao Brasil para ser considerado um país de cultura inclusiva?

Helô – O Brasil ainda precisa melhorar suas calçadas, transportes e edifícios para que nós deficientes consigamos circular sem depender de ajuda ou piedade. Os Estados Unidos, por exemplo, é um país modelo para os cadeirantes e, quando visitei, necessitei de pouca ajuda para circular. Já quanto à inclusão em si, dizem que aceitam os deficientes normalmente na sociedade, mas muitos se sentem incomodados em se relacionar com o deficiente. Quando somos crianças, por exemplo, e perguntamos sobre o “diferente”, somos repreendidos causando já desde o início um afastamento ou estranhamento entre o convívio dos deficientes com os “não deficientes”.

IS – Você acredita que o movimento social da pessoa com deficiência física no Brasil é atuante?

Helô – Em parte sim, porém acho que os movimentos deveriam ser mais unidos.

IS – Você sente alguma dificuldade em falar sobre sua deficiência física?

Helô – Jamais, falo abertamente. Entendo que a curiosidade é natural e que quanto mais eu falar sobre a minha deficiência, mais esclarecedor será para as pessoas. Prova disso é que meus amigos mais íntimos lidam normalmente com outros deficientes porque, de alguma forma, eu “quebrei” preconceitos antes desenvolvidos.

IS – Pessoas que apresentem qualquer tipo de deficiência, Helô, ainda sofrem com o preconceito?

Helô – Sim, quantas mulheres deficientes sofrem com a falta de autoestima e se sentem muito carentes por falta de aceitação do homem? Isso só prejudica a sua aceitação pessoal.

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Dentre outros políticos, Heloísa Rocha entrevistou o senador Eduardo Suplicy (PT-SP)

IS – Conte um pouco mais sobre sua vida profissional. Como ocorreu seu envolvimento com o jornalismo?

Helô – Naturalmente. No ensino médio optei pelo jornalismo por ser muito comunicativa e vi na profissão uma diversidade de atuações na área: rádio, televisão, impresso e assessoria de comunicação.

IS – Como jornalista, quais lugares você já trabalhou que percebeu a preocupação com a questão da acessibilidade?

Helô – Rádio Gazeta AM, onde trabalho atualmente. Lá eles construíram rampa de acesso, armário especial e sou referência na empresa para falar sobre o tema ou fiscalizar os locais que precisam de acessibilidade, como os banheiros.

IS – Se não fosse jornalista, qual profissão teria escolhido?

Helô – Psicologia.

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“Show de Keane!!! – em Credicard Hall”

IS – O que mais gosta de fazer nos momentos de lazer?

Helô – Sair com os amigos, fazer compras, cinema, balada, teatros e bares. Programas naturais para uma mulher de 28 anos [risos].

IS – Quais os seus três maiores sonhos?

Helô – Sucesso profissional; chegar aos 50 anos com uma boa saúde [a jornalista informou que, após essa idade, é natural a mulher com Osteogênese Imperfeita voltar a fraturar com facilidade] e que os deficientes consigam seu espaço não por serem deficientes, mas sim pelo seu talento natural.

IS – Qual o seu recado para quem tem deficiência e acredita que não pode se desenvolver em âmbito profissional, social e afetivo?

Helô – Independente da deficiência, cada um possui um talento natural e que deve ser desenvolvido. Não deixe que um pequeno limite tire o seu brilho natural. Seja um destaque no mundo!

Fotos: Arquivo pessoal/Facebook