Publicação: 22 de maio de 2013Categorias: Entrevistas

Adhons_Marcelo_LimaMilitante em constante luta pela garantia dos Direitos Humanos junto ao público LGBT em Sergipe e homossexual assumido desde os 15 anos. Esse é Marcelo Lima de Menezes, 44 anos, pedagogo com pós-graduação em História do Brasil e atual presidente da Associação de Defesa Homossexual de Sergipe (Adhons).

Em conversa com a equipe do Portal Inclusão Social, Marcelo Lima fala sobre o trabalho da Adhons, bem como do número cada vez maior de adolescentes sergipanos que têm se descoberto como homossexuais. Além disso, destaca o aumento da violência contra gays e enfatiza que não existe grupo de risco em relação às doenças sexualmente transmissíveis: existe comportamento de risco.

* Por Roseane Moura

adhons_2Portal Inclusão Social – A Adhons foi fundada em 27 de fevereiro de 2003. Que tipos de trabalhos a instituição realiza?

Marcelo Lima – Desde que a Adhons foi fundada passamos por diversas fases. No momento nossa prioridade é a educação preventiva do jovem homossexual que esteja na faixa etária entre 13 a 18 anos. Muitos jovens têm nos procurado como apoio por não contar com a família justamente nesta fase de descobertas. Além de adquirirem preservativos na entidade, também têm apoio sócio-educativo através dos voluntários que já passaram por isso. Pensando nesse público nós realizamos palestras educativas, seminários, participamos de eventos locais, nacionais e internacionais sempre com o foco na luta pela garantia dos Direitos Humanos do público LGBT, com destaque para o homossexual. Este ano teremos uma sede própria que está em fase de acabamento da pintura. Esperamos poder inaugurar no mês de junho, mas ainda não é certo, porque dependemos de pessoas voluntárias ajudando nesse processo. Hoje estamos com 10 voluntários atuando diretamente nas ações da Adhons.

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Com o médico Almir Santana

Portal Inclusão Social – Que tipos de violência o homossexual tem enfrentado em Sergipe?

Marcelo Lima – Destaco as violências doméstica, urbana e psicológica. Enquanto mais jovens estão se assumindo publicamente como homossexuais, maior tem ficado o índice de violência contra os gays. Por conta disso, temos uma parceria com um escritório de advocacia de Aracaju. Buscamos acompanhar de perto determinados casos onde fica evidenciada a homofobia, inclusive acompanhando o cidadão agredido às Delegacias de Polícia Civil.

adhon_1# Observação: Pesquisa divulgada ano passado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos sobre violência homofóbica no Brasil revela que os órgãos federais receberam em 2011 uma média de 19 denúncias por dia de discriminação ou violência contra homossexuais. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) mais de 40% dos homossexuais masculinos brasileiros já foram agredidos durante a sua vida escolar em diversas faixas etárias. Com objetivo de conter a violência e violação dos direitos desse grupo, foi aprovado, em 2011, o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (PNLGBT). O Plano tem com 51 diretrizes e 180 ações, baseadas nas propostas da Primeira Conferência Nacional LGBT, que devem ser implementadas pelo poder público para garantir a igualdade de direitos e exercício pleno da cidadania do segmento LGBT da população brasileira.

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Com João Nery

Portal Inclusão Social – A sociedade está menos preconceituosa em relação ao público homossexual?

Marcelo Lima – Diria que existe, mas entre aspas. Há uma evolução da sociedade em aceitar as pessoas homossexuais como elas são, mas a discriminação existe e eu mesmo sofro isso na pele todos os dias. Dificilmente eu conseguiria atuar na área de Pedagogia em Sergipe, porque minha imagem já está atrelada ao movimento LGBT. Já vivenciei situações que comprovam essa realidade e posso dizer que hoje consigo levar na esportiva. Outro ponto é considerar que a comunidade LGBT é um grupo de risco em relação às doenças sexualmente transmissíveis. Hoje não existe mais um grupo, existe um comportamento de risco que pode ser aplicado a qualquer pessoa.

Marcelo_CMAPortal Inclusão Social – Existe união no movimento LGBT em Sergipe?

Marcelo Lima – Acredito que sim, porém a união existe visivelmente em eventos maiores, como a Parada LGBT que acontece todos os anos na Orla de Atalaia. Ou em momentos como o de sexta-feira passada [17 de maio de 2013], onde diversos grupos estiveram presentes na Câmara de Vereadores de Aracaju para comemorar o Dia Mundial de Combate à Homofobia. Tivemos uma seção especial na Câmara e não era apenas a Adhons que estava no local. Estavam também o Grupo de Homossexuais do Bugio (GHB), a Astra – Direitos Humanos de Cidadãos LGBT, a Associação de Travestis Unidas pela Cidadania, o Grupo Lésbico Athena, o Movimento Lésbico de Sergipe (MOLS), a União de Negros pela Igualdade (Unegro), entre outros. Isso mostra o quanto estamos fortes e organizados, mas cada organização trata de um público específico. O nosso é o homossexual, o gay, e não o travesti, o transexual, a lésbica etc. Cada entidade trabalha de forma específica, mas a busca é a mesma: garantir nossos direitos enquanto cidadãos. No caso da Adohns, além de participar do evento na Câmara, participamos de uma mesa redonda na cidade de Barra dos Coqueiros no dia seguinte [sábado, 18 de maio] e realizamos um trabalho preventivo sobre doenças sexualmente transmissíveis no domingo [19 de maio] conversando com os jovens gays que frequentam o Parque da Sementeira. Na oportunidade também distribuímos material educativo e preservativos.

Adhons# Observação: O Dia Internacional Contra a Homofobia e a Transfobia é comemorado a cada 17 de maio desde 1990, quando a Organização Mundial de Saúde retirou a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças (CID). No entanto, a CID ainda considera as pessoas trans ‘doentes’ pela falta de conformidade entre a sua identidade com o sexo designado no nascimento e durante o seu amadurecimento.

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Com Isis Feitosa e Andrey Lemos

Portal Inclusão Social – Quais os planos da Adhons para este ano [2013]?

Marcelo Lima – Inicialmente estaremos colocando nosso espaço próprio para funcionar sem pagar aluguel. Isso para nós é um ganho maravilhoso. Certamente voltará a ser um local muito frequentado pelos jovens diariamente. Será um espaço próprio, contando com os 10 voluntários que estão diretamente atuando na instituição, além de mais de 500 pessoas que se somam às causas de Adohns e nos auxiliam sempre que podem. Pretendemos também lançar o terceiro livro da Organização, intitulado provisoriamente de ’10 Anos da Adhons – História e Verdades’. Outro momento que destaco será a realização da Rainha do Milho Fresco 2013, evento que será realizado dia 28 de junho, no Sindipetro, aqui mesmo em Aracaju. Para nós esse momento será a abertura oficial das comemorações alusivas ao Dia Mundial do Orgulho Gay. Em seguida estaremos indo a campo, nos municípios de Itabaininha, Tomar do Geru e Umbaúba realizar um ciclo de Seminários sobre a Diversidade Sexual.

# Observação: Em 28 de junho de 1969 ocorreu, em Nova York, Estados Unidos, a Rebelião de Stonewall. Stonewall era um bar de frequência LGBT, que sofria repetidas abordagens policiais sem justificativa. Naquele dia, os frequentadores se revoltaram, dando início à luta pela igualdade de direitos de LGBT em todo o mundo.

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Com Rosária Rabelo

Portal Inclusão Social – Que recado você deixa aos pais de jovens, especialmente aqueles entre os 13 e 18 anos?

Marcelo Lima – Digo que ouçam a seus filhos. Muitos adolescentes procuram a Adhons porque não têm apoio em casa e nem nas escolas. O preconceito tem que ser banido. Eu sugiro que eles pensem em formas de abordar o tema ‘homossexualidade’ em casa. E para a sociedade como um todo eu diria que não tentem “curar pessoas gays”, como o projeto de um cidadão que prefiro nem mencionar o nome. Estamos abertos a debates, esclarecimentos e apoio no que os homossexuais de Sergipe precisarem. Iremos continuar combatendo a homofobia em todos os pontos do Estado, porque nós gays, lésbicas, bissexuais, travestis somos cidadãos igualmente a qualquer outro.

* Esta entrevista contou com a participação do radialista Renato Nogueira e da jornalista Waneska Cipriano