Publicação: 30 de junho de 2009Categorias: Notícias

 Muito mais do que latas…

Por Elaine Mesoli *

Manoel Messias da Silva tem 48 anos e ganha a vida catando latinhas nas ruas e nos eventos que acontecem na Grande Aracaju, principalmente durante o Forró Caju. As rugas em seu rosto curtido pelo sol, pelas noites perdidas e também pela cachacinha tomada vez ou outra, mostram todo o sofrimento de uma vida incerta. "A gente nunca sabe quanto vai ganhar. Nessa época de forró a gente ganha mais um pouquinho. Em compensação os donos de ferro velho baixam o preço do quilo", comenta.

A família inteira trabalha no mesmo ofício que Manoel: a esposa e mais seis filhos. O mais novo tem seis anos. Por ser mais ágil na atividade de recolher as latinhas espalhadas entre as pernas dos forrozeiros em meio à maior festa popular de forró do Estado, ele acompanha o pai.

Manoel sabe que é um trabalho pouco reconhecido, mas essencial para o bom andamento da folia. "Imagine, dona, o que teria de sujeira se não fosse nós, para retirar essas latinhas?"

A vida de Manoel é difícil, pois ele tira do lixo seu sustento. Entretanto, tem pessoas que ajudam já deixando separado o lixo reciclável para ele, que passa, uma vez por semana para pegar. A essas pessoas que doam o seu lixo, Manoel chama de "parceiros".  Mas a maioria da população não tem a consciência de separar e coloca no mesmo saco o que pode e o que não pode ser reaproveitado.

Apesar da falta de estudo, da exclusão da sociedade, dos problemas de convívio, enfrentando dia-a-dia o dilema da sobrevivência com a falta dinheiro para o alimento, ele e sua família vivem, exatamente, dos restos do nosso cotidiano. E, mais ainda, Manoel sabe que contribui para o nosso meio ambiente ajudando na sustentabilidade do planeta. "Tem essa palavra difícil aí, mas eu sei que, mesmo ganhando pouco, ajudo a natureza".

Mas tem uma coisa que ele não sabe: que sua profissão foi reconhecida pelo Ministério do Trabalho em 2002, podendo agora ser considerado trabalhador autônomo. Também não sabe que faz parte de um contingente de mais de 300 mil trabalhadores ou que ajuda o Brasil a se manter em 3º lugar no ranking mundial de reciclagem de alumínio. "Se já considera isso profissão, poderia ter empresa para contratar a gente, ?", indaga.

Permaneci com Manoel durante duas horas no segundo dia da festa e, nesse meio tempo ele, e seu filho, conseguiram juntar mais de 300 latinhas. Cerca de cinco quilos do alumínio. Com o saco onde junta o material já cheio, eles levaram para onde estava o restante da família, no estacionamento do local. Ao redor deles havia mais cinco sacos iguais ao que Manoel estava usando, todos cheios. "Estes dois dias foram muito bons. Se continuar assim vai dar para ganhar um dinheirinho maior".

A esposa, Joséfa Cristina, amassava as latas para que coubesse um número maior nos sacos e chamou o marido de bobo. "Eu já disse pra ele para que a gente não vendesse tudo agora que eles tão pagando barato. O bom mesmo vai ser quando acabar a festa, daí o preço vai para quase o dobro. Mas ele é teimoso que nem mula."

Manoel ouve e manda a esposa ficar quieta, porque ele sabe o que faz. Se vai vender agora ou depois é um problema dele. Aproveitou e contou à Cristina, como prefere ser chamada, que agora é trabalhador autônomo e que ajuda o Brasil. Cristina retrucou que de nada adiantava ajudar o Brasil, se quem governa não ajuda a eles.

* estudante de Jornalismo pela UFS.