Publicação: 27 de abril de 2015Categorias: Notícias

armasEm alguns locais já é lei: brinquedos em formato de arma não podem ser comercializados. Será que isso, realmente, pode ser um estímulo à violência?

Apesar da legislação brasileira proibir a comercialização de réplicas de armas, uma pesquisa do Instituto Sou da Paz mostra que das armas utilizadas para cometer crimes entre 2011 e 2012, em São Paulo, 44% não eram verdadeiras. A venda desses itens com características de brinquedos, como a utilização de cores alegres e chamativas, não retiram deles o poder simbólico da violência inerente. Videogames e outros dispositivos também oportunizam a experiência da violência gratuita: em alguns jogos, o protagonista é vitorioso de acordo com a quantidade de mortes ou desastres que é responsável.

O que fazer, então, quando a criança faz da realidade uma brincadeira? É correto proibir que os pequenos utilizem armas de brinquedo, por exemplo, ou brincadeiras que retratam a violência vista nos jornais, como a morte de pessoas? “Se os pais tem a iniciativa de estimular as crianças a brincarem de outras maneiras, ela cresce com esses valores de que o brincar não envolve brinquedos comprados, caros ou que remetam à violência”, destaca a assistente social Maria das Graças Silva, da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança.

Uma ação promovida pela Pastoral da Criança é a divulgação dos 10 Mandamentos para a Paz na Família. O folder, com os mandamentos, é distribuído a todas as famílias visitadas pelos voluntários, para incentivar e promover atitudes que visam à paz no ambiente familiar e comunitário.

Em Londrina, Estado do Paraná, por exemplo, foi instituída a Lei 9188/2003, que proíbe a venda de brinquedos em formatos de armas. A ação inspirou outras localidades, como o Estado da Paraíba e o Distrito Federal, que já estão na lista e há ainda a proposta para que a lei se estenda a todo o país.

Na cidade paranaense, são promovidas ações de trocas de brinquedos: as crianças entregam brinquedos em formatos de armas e ganham outros o lugar. A mesma ação aconteceu em Brasília em 2013 e 2014. Em Londrina, há ainda o reconhecimento das lojas que apoiam a causa através do selo “Arma não é brinquedo, dê abraços”. Anualmente, o Conselho Municipal da Cultura de Paz e a organização Londrina Pazeando, com o apoio da Câmara Municipal, promovem a premiação no mês de novembro, quando se comemora o Dia Internacional de Protesto Contra os Brinquedos de Guerra.

criancaA Pastoral da Criança defende que as brincadeiras devem ter sempre caráter lúdico, dando oportunidades para um desenvolvimento adequado à criança. Além disso, a entidade acredita que elas são um apoio às famílias para o desenvolvimento de um ambiente favorável para um crescimento saudável. Por isso, entre as atividades realizadas nas comunidades está a ação “Brinquedos e Brincadeiras”, que estimula que crianças e familiares, juntos, criem maneiras de se divertirem e interagirem. “Há oficinas de brinquedos em que as crianças e pais são estimulados a criarem seus próprios brinquedos. Assim, elas compreendem que não é necessário comprar”, ressalta Maria das Graças.

Violência cotidiana

A sensação de insegurança faz parte do cotidiano de pais e mães que, em substituição às brincadeiras coletivas em espaços abertos, orientam os filhos para que fiquem em casa e desenvolvam brincadeiras mais individuais. Até poucos anos atrás, era habitual ver crianças brincando nas ruas; agora, a prática tem se tornando uma cena cada vez mais rara. Jogos em videogames, tablets, celulares e computadores são as novas formas de brincar em segurança, dentro de casa. Entretanto, a violência continua a ser vivenciada, mas, agora, de outra forma.

Crianças têm facilmente acesso a um grande número de notícias, especialmente através da televisão e da Internet. A questão é que, em muitas dessas notícias, a violência é um dos temas principais. No Rio de Janeiro, por exemplo, as imagens de crianças que circulam pelas ruas de morros, lado a lado com homens armados – sejam eles policiais ou traficantes – passaram a ser rotineiras nos jornais. “A relação de quem é o bom ou mau ganhou contornos difusos, especialmente após as notícias de mortes por balas vindas de armas de quem deveria proteger”, ressalta a Pastoral da Criança no Brasil.

Para a coordenadora do setor Norte da Pastoral da Criança no Rio de Janeiro, Roseli Bitton, a convivência das crianças de comunidades que vivem em tensão de violência constante faz com que eles sequer queiram manusear esse tipo de brinquedo. “Nós também não incentivamos ou deixamos eles brincarem com esse tipo de brincadeira”, explica. Ela afirma ainda que uma prática na Pastoral da Criança local tem sido as brincadeiras coletivas, como cantigas de roda e corda. “Isso também ajuda a amenizar a realidade que eles vivem”, afirma.

Roseli percebeu ainda que as lojas, especialmente as de brinquedos, do Rio de Janeiro já não disponibilizam brinquedos em formato de arma. Para ela, isso também é parte de uma conscientização das pessoas que outras formas de brincar podem ser muito mais interessantes e estimulantes.

Fonte: www.adital.com.br