Publicação: 19 de novembro de 2009Categorias: Entrevistas

 

 Carlos Augusto dos Santos

Novembro Negro: ´Educação, Cultura e Arte como forma de Inclusão Social´

20 de novembro: Dia da Consciência Negra. A equipe do Inclusão Social entrevistou Carlos Augusto dos Santos, coordenador do coletivo de artistas afrodescendentes ´Novembro Negro´. O coletivo promove, até o próximo dia 30, a 5ª Mostra Pluriartística ´Novembro Negro´, com o tema ´Educação, Cultura e Arte como forma de Inclusão Social´. O evento acontece no auditório Lourival Baptista (Rua de Laranjeiras). Confira!

Por Elaine Mesoli
Estudante de Jornalismo/UFS
e voluntária da ISocial

  

INCLUSÃO SOCIAL – Como surgiu o ´Novembro Negro´?

CARLOS AUGUSTO – Eu fazia muitas mostras e saraus poéticos somente com meus trabalhos. Então senti a necessidade de criar um grupo, para ampliar o acesso. Conversando com alguns amigos como João Santos Cruz, que na época era diretor da Galeria Álvaro Santos, passei a proposta e ele achou interessante. Daí surgiu, em 2005, o `Novembro Negro´. Outras pessoas, que moram em periferia, também são artistas, e não têm a possibilidade de mostrar seus trabalhos. Há muitos capoeiristas, artistas plásticos, dançarinos, fotógrafos e essas pessoas não têm como dar visibilidade. A proposta é mostrar o que é produzido na periferia por artistas negros e não-negros.

IS – Esse é um movimento nacional, já que existe em outros Estados?

CA – A nomenclatura ´Novembro Negro´ é por termos como referencial Zumbi dos Palmares. Então, esses Estados utilizam isso, não como grupo, mas como ideal, enquanto que nós somos um grupo registrado, um movimento pluriartístico. Mas se fizer uma busca na internet vão ser encontrados diversos sites com Novembro Negro no nome apenas por ser relacionado ao negro, ao Dia da Consciência Negra e à Zumbi dos Palmares.

 Foto: Google

IS – Por que 20 de novembro é o Dia da Consciência Negra?

CA – Porque é o dia da morte do líder negro Zumbi dos Palmares. Neste dia ele foi covardemente assassinado. Então, nós comemoramos o Dia Nacional da Consciência Negra, que estamos lutando para que se torne feriado em Sergipe, assim como já é na Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. E perceba que temos mais da metade de nossa população de afro-descendentes.

IS – Quais serão as atividades feitas no Dia da Consciência Negra?

CA – Nos concentraremos às 7h30 na Praça da Bandeira e de lá seguiremos até a Fausto Cardoso, onde teremos algumas atrações que chamamos de didático-pedagógicas, contando com a participação de nove escolas estaduais.

 

IS – Onde fica a sede do grupo?

CA – Nossas reuniões são feitas todas as sextas-feiras na igreja Nossa Senhora de Lourdes, na Praça Dom José Thomaz; o padre nos cedeu esse espaço. Ainda estamos brigando para obter um endereço para a sede.

IS – Vocês são a favor das cotas para as Universidades?

CA – Em nosso grupo há pessoas que são contra e outras a favor. Eu, particularmente, sou a favor. Não porque assim mostramos uma inferioridade intelectual, mas para reparação do que nos foi tirado no passado. Antes, e ainda hoje, o negro tem de fazer algo 10 vezes melhor do que o branco. Por que para mostrarmos que somos iguais temos de fazer 10 vezes melhor? Basta que mostremos o que a gente pode fazer. Isso castrou muito a evolução dos nossos ancestrais e impediu que eles galgassem espaços. Sou a favor apenas por reparação de danos causados no passado.

 

IS – Em relação a outros movimentos étnicos e as representações deles na sociedade?

CA – Há alguns grupos de indígenas e ciganos, mas não possuem tanta representatividade. O movimento de afrodescendentes tem mais expressividade, porque lutamos e persistimos na luta. Hoje em dia já conseguimos ver um ou dois negros com altos cargos na política. Os índígenas, atualmente desconheço se existe algum representante no Senado ou nas Câmara dos Deputados ou Vereadores; só tive conhecimento até hoje do Cacique Juruna. Não conheço um índio governador, um índio secretário de Cultura. Os ciganos vão pelo mesmo caminho.

IS – Ainda sobre o Dia da Consciência Negra, quais atividades estão sendo feitas?

 
Imagem: www.brasilcultura.com.br

CA – Começamos no dia 5 com a abertura da exposição que irá até o dia 30. Estivemos em Socorro, com uma palestra e uma apresentação artística. Dia 14 estivemos numa apresentação de Basquete de Rua, que aconteceu na Praça D. José Thomaz com a Central Única das Favelas (Cufa).

IS – E qual o motivo da escolha do tema esse ano?

CA – `Educação Cultura e Arte como forma de Inclusão Social´ porque tudo relacionado à educação envolve cultura e envolve arte. Aqueles que não têm acesso precisam desses requisitos para se sentir incluídos social e culturalmente; independente de ser negro ou branco. Em nosso grupo há pessoas de várias etnias. A pessoa pode não gostar de ser chamada de negra. A cor da pele está na consciência de cada um. 

IS – De que forma a inclusão social deveria ser feita?

CA – O primeiro passo é dar uma educação de qualidade. Que todos negros, brancos, deficientes possam realmente ter acesso à escola.

  

 Foto: Google

IS – Você acha que atualmente não existe o acesso à escola?

CA – Tem, mas ainda falta muito; muitos ainda estão de fora.

IS – Se você diz que existe o acesso, porque você diz que muitos estão de fora?

CA – Não adianta ter o acesso se não existe educação de qualidade. Não adianta ter um monte de escola aberta, se os professores não estão comprometidos. Há professores em sala de aula que não estão preocupados em informar/educar.

IS – Então não é uma questão de falta de acesso. Seria falta de conscientização dos que estão lá para educar?

CA – E incluir as pessoas que estão fora do processo, porque algumas escolas estão em estado deplorável, algumas outras estão sendo fechadas. A inclusão social começa possibilitando o acesso à educação, somente assim teremos cidadãos livres.

* Contatos com ´Novembro Negro´: (79) 8843-9041.