Publicação: 31 de outubro de 2008Categorias: Notícias

Pesquisa mostra como desigualdades raciais prejudicam jovens

 Se as raças que formaram o povo brasileiro se misturaram, os direitos e a fatia das riquezas, não. É isso que atesta o Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil, divulgado no último dia 15 de outubro pelo Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais da UFRJ. O material faz uma análise sobre indicadores sociais de 1995 a 2005 e observa que, nos últimos anos, estamos caminhando para a diminuição das diferenças entre negros e brancos. Mas que a demora na implementação de tais mudanças pode prejudicar seriamente a efetivação desses direitos, principalmente em relação aos jovens negros.

Uma das áreas onde a diferença diminuiu mais significativamente é a do acesso ao ensino superior. Em 1995, apenas 18,1% dos estudantes universitários brasileiros eram negros. Hoje, ainda que os jovens negros ainda não sejam maioria, mas há uma participação mais significativa (29,9%). Segundo o relatório, a criação de políticas reparatórias nas universidades e faculdades são fatores decisivos para a mudança dessa realidade. A pesquisa recomenda que os governos elaborem novos mecanismos de inclusão e revisão das distorções entre brancos e negros em outras etapas do ensino, como a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e Médio.

De acordo com a pesquisa, no Ensino Médio também se pode observar uma das maiores diferenças de realidade entre adolescentes negros e brancos. Diferenças que estão diminuindo, mas que ainda demonstram realidades muito distintas: há treze anos, 12,1% dos adolescentes negros, em idade compatível, cursavam o Ensino Médio. Esse número se elevou tanto para jovens brancos quanto para negros: 59,1% e 37,8%, respectivamente. Os dados também revelam que os governos precisam investir pesadamente no Ensino Médio, com o objetivo de universalizá-lo. Mas para ambos os grupos raciais, é significativo o número de jovens fora da escola e como tal, com menores condições de emprego e conquista de oportunidades no futuro.

O relatório também afirma que um dos fatores que contribuem para o menor número de adolescentes e jovens negros no Ensino Médio é um conjunto de dificuldades que perpassa o sistema. Os livros didáticos tornam invisíveis às populações negras, as atitudes das escolas são por vezes discriminatórias ou não conseguem lidar com o problema quando surge, além das más condições do sistema educacional brasileiro. Mesmo com legislação específica sobre ensino e história e cultura afro-brasileiras, a dificuldade em implantar essas mudanças é patente.

Se em algumas áreas é possível falar em avanços, em outras a gravidade da situação assusta. Segundo o relatório, a incidência de homicídios entre a população jovem, especialmente na faixa etária de 15 a 24 anos, assumiu características de epidemia – destacando o aspecto de raça/etnia – elevado número de jovens negros morto – e gênero, essencialmente sexo masculino. Enquanto na mesma faixa etária, os óbitos dos jovens brancos por causas externas têm fundamento nos acidentes de trânsito, entre os negros, a causa está n violência. O índice de homicídio de 1995 para cá aumentou 46,3% e atualmente 54,4% dos assassinatos vitimam jovens pretos e pardos.

Fonte: Adital